quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

MALVINAS OU FALKLANDS?

O descobrimento do arquipélago é controverso. Ingleses, espanhóis e holandeses reivindicam a descoberta. Em 1690, os ingleses a batizaram de Falklands, em homenagem ao patrocinador da viagem, realizando o primeiro desembarque efetivo nas ilhas. Entretanto, em 1598, o holandês Sebald de Weert faz o primeiro avistamento realmente confirmado do arquipélago. Em 1764, o francês Louis Bougainville estabelece uma base naval na Malvina Oriental (nome derivado de Malouine,, em referência à cidade francesa de Saint-Malo). Em 1765, o inglês John Byron desembarca na Malvina Ocidental. Em 1766, a França vende sua base para a Espanha e esta se coloca contra a presença inglesa. A disputa é resolvida no ano seguinte, determinando-se que cada país controlaria uma porção do arquipélago, cabendo aos ingleses a porção ocidental - mas não realizam uma ocupação efetiva - e ao espanhóis a porção oriental. Em razão das lutas pela independência na América do Sul, a Espanha se retira das ilhas. Em 1827, a Argentina inicia a colonização do arquipélago e a anteriormente francesa Port Louis agora é Puerto Soledad. Mas, em 1833, o Império Britânico envia uma fragata de guerra, reivindica a posse e anuncia sua reintegração. Não tendo como resistir, os argentinos que estavam na ilha retornam ao continente e os britânicos iniciam sua ocupação, colonizando-a em definitivo e alterando o nome de Puerto Soledad para Port Stanley. A Argentina nunca deixou de reclamar a posse das mesmas. Em 1982, em meio à ditadura de Leopoldo Galtieri, a Argentina promove um ataque ao arquipélago. Mergulhada em uma crise política e econômica e com o governo militar caindo em descrédito, a busca da reintegração das ilhas seria uma alternativa e também uma solução para o governo que, nesse momento, apelava para o patriotismo, ficando evidente que tudo passava também por um viés ideológico. Anteriormente, em 1965, a Argentina havia conseguido que a ONU estabelecesse uma resolução tratando a questão como sendo um problema colonial. Não tendo sido resolvida a questão. A junta militar que governava a Argentina resolve atacar. Subestimando o potencial bélico britânico e não contando com o apoio dos EUA, juntamente com o Chile – que disputava o controle do Canal de Beagle no extremo sul do continente com a Argentina. Nesse momento, o TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca – foi colocado à prova e se demonstrou ineficaz. O mesmo foi concebido em 1947, no Rio de Janeiro, e versava que um ataque a qualquer país signatário seria um ataque contra todos que assinaram o tratado. Naquele momento, o TIAR era mais um acordo inserido no contexto de contenção do comunismo nas Américas. Em 1982, os governos Reagan e Thatcher já articulavam as políticas do neoliberalismo. Os EUA não podiam se colocar contra os ingleses. Os esforços dos demais países que assinaram ficaram no âmbito diplomático. A Argentina estava sozinha. Não custa lembrar que o Reino Unido e os EUA são países do Conselho Permanente de Segurança da ONU e nele têm direito a veto. Em junho de 1982, o Reino Unido vence a guerra e expulsa os argentinos. Importante igualmente é lembrar que o conflito não ficou restrito às Malvinas/Falklands. O mesmo se estendeu a outros dois conjuntos de ilhas ocupados pelos britânicos: Georgia do Sul e Sandwich do Sul, também ocupadas pelos argentinos na guerra.

Qual a importância estratégica das ilhas? 

As ilhas fazem parte de um arco de ocupação britânica no oceano Atlântico: Tristão da Cunha, Ascensão, Santa Helena, Malvinas/Falklands, Georgia do Sul e Sandwich do Sul. O controle dos caminhos no Atlântico era uma necessidade que se impunha ao grande império colonial britânico e ainda hoje se impõe. Ao mesmo tempo, a ocupação das ilhas mais próximas à Antártida supostamente facilitariam a exploração do continente austral em futuras negociações. Especificamente nas Malvinas/Falklands, a exploração de combustíveis fósseis confere ao arquipélago importância econômica. A Argentina reivindica um mar territorial de 200 milhas e, assim, o arquipélago estaria em seu território. Recentemente o Brasil afirmou a disposição de ampliar seu mar territorial (Zona Econômica Exclusiva) para 300 milhas, em razão do petróleo do pré-sal. Por fim, o governo inglês acusar a Argentina de colonialista só deve ser um déja vu ...






Abraços,
Professor Cajo

domingo, 19 de fevereiro de 2012

GREVES E MÍDIA

Apesar deste blog ser voltado para o vestibular, não posso deixar de postar aqui um texto sobre a greve dos policiais na Bahia e a ação da mídia, de Ricardo Balestreri, que foi Presidente da Anistia Internacional no Brasil e Secretário Nacional de Justiça. Como já foi dito, uma análise corajosa.

"Caros amigos, reproduzo, abaixo, algumas reflexões despretensiosas que fiz como resposta à pergunta de uma amiga policial que gostaria de saber como vejo o tratamento dado pela mídia e pelas autoridades à greve da polícia baiana:

A mídia deu aos policiais baianos o mesmo tipo de tratamento que, de forma geral, tem dado a todas as coisas: superficial, rasteiro, cheio de clichês, meias verdades( e meias mentiras), lugares comuns, obviedades, demagogias. A mídia brasileira, com raras exceções, continua sendo a mesma farsa lacerdista/falso-moralista de sempre (acobertando a censura real e os interesses onipresentes do grande capital e dos senhores feudais dos grandes meios familiares e políticos de comunicações). Tratou os profissionais de segurança pública da Bahia de forma a apresentá-los à opinião pública- velada ou subliminarmente- como membros ou como coniventes com organizações criminosas, grupos de extermínio, matadores e baderneiros. Não se preocupou em destacar o fato de que bandidos infiltrados em organizações de poder - como a polícia- agem o tempo todo, independentemente de greves, e devem ser punidos independentemente de greves. Confundiu e mistificou, como sempre faz, em nome de "causas nobres" inquestionáveis, como o respeito à ordem pública e à democracia. Mais assustador é o fato de que o estado brasileiro, oportunística e temerosamente, lhe tenha seguido os passos.
Ou seja, há muito não se via o estado ( e não estou me referindo ao estado da Bahia especificamente, o que seria um reducionismo) sendo pautado tão fortemente não pelos fatos e pela necessidade de políticas públicas mas pelas banalidades aterrorizadas e generalizações da política do medo. Não se aproveitou para debater com qualquer seriedade as condições de vida e trabalho dos policiais, bombeiros, guardas municipais e agentes penitenciários, não foram lembrados os cortes orçamentários federais para a segurança pública e nem o desmantelamento de importantes programas do governo Lula, não se abordou a legislação anacrônica que rege a segurança no Brasil, não se falou do absurdo extemporâneo, do entulho constitucional culturalmente autoritário, herdado, que faz o Brasil contemporâneo continuar olhando para as PMs da mesma forma que as olhava a ditadura, como militares e não como policiais, submetidas a uma lógica que deveria servir apenas às forças armadas ( o que não significa que precisem perder a estética militar), não se lembrou do óbvio caos e anarquia a que sempre estarão sujeitas profissões às quais todos os direitos são negados, inclusive o de sindicalização, sempre que a "panela de pressão" explodir, quando já não suportarem mais as violações de seus próprios direitos humanos. A mídia e o estado brasileiros, sem compreender a correlação entre segurança e desenvolvimento, continuam tratando os profissionais da área como meros "braços armados" e, na contramão da história das democracias, estudam a hipótese de sufocá-los ainda mais, penalizando os grevistas como "criminosos federais" e retirando da pauta a PEC 300 ( que tem sido tratada com assustadora leviandade, como mera invenção manipulatória de políticos demagogos e irresponsáveis). A mesma velha lógica da ditadura, de encarar as reivindicações sociais como "caso de polícia" hoje é usada contra a polícia (que tem nisso uma chamada pedagógica para rever o seu próprio passado como braço armado de elites insensíveis às demandas populares). É um caminho muito burro, além de tudo. Não se contém, historicamente, nenhuma forca reivindicatória na base da penalização e da porrada. A coisa volta e volta pior. Sem liderança autorizada constituída, formal, responsabilizável, sem canais institucionais legítimos, cada nova explosão é mais perigosa do que a anterior. As causas? Parece que os poderosos não estão preocupados com elas. A lógica é tecnocrática, aritmética, economicista, de curto prazo, de estancamento puro e simples dos fenômenos/consequências. Contas, tabelas, números, não pessoas. Essa gente tem um pensamento linear, econométrico, e não alcança uma visão de complexidade. Em sua miopia histórica, confunde investimento com gasto e negociação inteligente com fragilidade. O Brasil enriquece mas continua com mentalidade de terceiro mundo....
Abraço fraterno do Ricardo Balestreri."