terça-feira, 29 de maio de 2012

G20

O G20 tanto pode ser o grupo dos 20 países mais ricos do mundo como o grupo dos 20 países emergentes; no primeiro caso temos África do Sul, Alemanha, Arábia, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, EUA, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia e União Europeia e visa o crescimento econômico através de políticas que assegurem a eliminação de barreiras no movimento de capital internacional, flexibilização do trabalho, desregulamentação da economia e privatizações. O outro grupo reúne os países emergentes, sendo que Brasil, Argentina, México, China, Turquia, Índia, Indonésia e África do Sul também são integrantes deste; seu principal objetivo diz respeito às práticas agrícolas mundiais e a comercialização da produção, contra as políticas de subsídios dos países mais ricos.


G8 
O G8 é composto pelos 8 países mais industrializados do mundo. Na verdade, é um G7 mais a Rússia, que foi guindada a esta posição no G8 em função de ser uma antiga potência militar (URSS) e ser importante no equilíbrio geopolítico do mundo, isto é, aproximar a Rússia dos mais ricos significa uma ação dos países ricos para conter uma possível volta ao regime comunista. A Rússia possui imensas reservas energéticas, principalmente petróleo e carvão. Hoje em dia o governo está sob o comando de Vladimir Putin. Putin é um antigo membro da KGB, a polícia secreta soviética. Os países do G8 são EUA, Canadá, Reino Unido (Inglaterra), França, Itália, Alemanha, Rússia e Japão. 

FMI/BANCO MUNDIAL/OMC 
A hegemonia econômica dos Estados Unidos já vinha se firmando antes mesmo do fim da Segunda Guerra e do estabelecimento do Plano Marshall. A Conferência de Bretoon Woods, realizada nos Estados Unidos em 1944, reuniu os presidentes dos países aliados e teve como principal objetivo planejar a estabilização da economia mundial, então abalada pela guerra. Entre as principais decisões tomadas nessa conferência, citamos as seguintes: o dólar norte-americano tornou-se a moeda de referência no mercado internacional, ou seja, o valor das mercadorias comercializadas entre os países seria definido não mais pela libra esterlina inglesa, como havia ocorrido até então, mas pela cotação do dólar no mercado mundial; foram criadas duas organizações financeiras mundiais, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento), cuja função era fornecer empréstimos financeiros aos países em dificuldades econômicas; foi instalado o GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), órgão supranacional que passaria a regular o comércio internacional, substituído posteriormente pela Organização Mundial do Comércio (OMC), que procura disciplinar o comércio mundial, estabelecendo regras e julgando casos de protecionismos e subsídios estatais. Ainda que tenham auxiliado na reconstrução não somente dos países afetados pela guerra, mas também de muitos países subdesenvolvidos, esses organismos internacionais ajudariam a consolidar a supremacia política econômica dos Estados Unidos, já que a maior parte dos fundos destinados aos empréstimos vinha de seus cofres. Alguns desses países endividados já entraram numa espécie de círculo vicioso, de acúmulo progressivo da dívida: eles tomam dinheiro emprestado não para investir em suas economias, mas para pagar juros e amortizar (pagar em parcelas) o principal de suas dívidas externas. Com isso, o montante de seu endividamento vai acumulando a cada ano. Ultimamente tem sido comum esses países endividados recorrerem ao Fundo Monetário Internacional (FMI), com sede em Washington, Estados Unidos. Até 10 de maio de 2012 eram 155 os países membros da OMC. O FMI surgiu no fim da Segunda Guerra Mundial, juntamente com seu irmão gêmeo, o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como Banco Mundial e igualmente sediado em Washington. Tanto o BIRD como o FMI são instrumentos financeiros controlados pêlos países ricos, especialmente os Estados Unidos. Na realidade, essas duas instituições pertencem à ONU e centenas de países possuem cotas e participam delas. O BIRD tem como função conceder empréstimos aos países que necessitam de dinheiro para investimentos. O FMI desempenha o papel de coordenador e fiscalizador dos empréstimos e das políticas de desenvolvimento postas em prática pêlos países endividados. 

OTAN
Outra organização importante, que parecia destinada a morrer, mas sobrevive e até se fortalece, é a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Justamente com o final do Pacto de Varsóvia pensou-se que a OTAN também seria extinta, mas ocorreu o contrário: ela vem se fortalecendo, adquirindo novos objetivos e sendo alvo de disputas dos ex-países socialistas que nela pretendem ingressar, o que tem desgostado a Rússia, que vê sua influência sobre países do leste europeu diminuir. Entretanto, a Rússia se tornou um país parceiro. Da série de tratados e alianças militares que objetivam proteger os regimes políticos ideológicos durante a Guerra Fria, a OTAN (ou NATO - North Atlantic Treaty Organization) foi a que mais se sobressaiu. Criada como objetivo de combater o avanço do socialismo no continente europeu, atualmente a OTAN ainda atua como uma aliança militar entre os EUA e as demais potências econômicas capitalistas do hemisfério Norte. A partir da década de 90, os EUA tiveram sua hegemonia intensificada com a dissolução da União Soviética e o fim da Guerra Fria. A OTAN passou então a apoiar algumas nações ex-socialistas, a fim de que transitassem suas economias para o capitalismo, pois com o fim do domínio do sistema socialista no Leste Europeu, a aliança militar do Pacto de Varsóvia, criada em 1955 para se contrapor à OTAN, estava encerrada em 1991. Assim, a OTAN pode fazer intervenções pontuais no mundo sem a oposição de um pacto militar concorrente. A OTAN teve participação efetiva nos conflitos nos Bálcãs na década de 1990 (Bósnia e Kossovo), na ocupação do Afeganistão pelos EUA (2001) – cujo principal objetivo hoje é possibilitar às autoridades afegãs a garantia de segurança no país e evitar a volta do talibã – e na Líbia, em 2011, onde países aliados da OTAN impuseram um embargo de armas, uma zona de exclusão aérea no país e passaram a proteger a população civil. 
Hoje são membros efetivos da OTAN os seguintes países: Albânia, Alemanha (República Federal da Alemanha antes da reunificação alemã), Bélgica, Canadá, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos da América, França, Grécia, Países Baixos, Islândia, Itália, Luxemburgo, Noruega, Portugal, Reino Unido, Turquia, Hungria, Polónia, República Tcheca, Bulgária, Estónia, a Letónia, Lituânia, Romênia, Eslováquia e Eslovénia
Já como países parceiros temos: Armênia, Áustria, Arzebaijão, Belarus, Bósnia-Herzegovina, Finlândia, Macedônia, Georgia, Irlanda, Cazaquistão, Quirquízia, Malta, Moldova, Montenegro, Rússia, Sérvia, Suécia, Suíça, Tadjiquistão, Turcomênia, Ucrânia e Uzbequistão.

terça-feira, 15 de maio de 2012

CULTURA E RELIGIÃO

O texto a seguir foi retirado e adaptado de “Espaço e sociedade: temas da geografia mundial”, de Jaime Oliva e Roberto Giansanti, páginas 235 e 252. Atual Editora. São Paulo. 1996.

A questão cultural não aparece como destaque nas análises do mundo em que vivemos. São muito mais comuns as interpretações políticas e econômicas. Porém, os acontecimentos nos anos 90, tais como conflitos armados entre etnias diversas, intolerância racial ou nacionalismos extremistas, tornaram indispensáveis as considerações sobre o tema.
Exemplo: na Guerra do Golfo (1991), os meios de comunicação procuraram insistentemente explicações para as atividades de Saddam Hussein, presidente do Iraque, que havia ordenado a invasão do Kuwait. A imprensa mundial limitava-se a reproduzir o discurso de George Bush, então presidente dos EUA, para o qual era “justa” a investida contra Saddam, pois este não passava de um fanático religioso, louco e irresponsável e, de quebra, todo povo iraquiano. Ora, este ex-aliado americano, que nunca foi um governante muçulmano fundamentalista (que é aquele que segue à risca os preceitos do coração, livro islâmico sagrado), foi apresentado ao mundo como uma criatura exótica, estranha e inimigo mundial, leia-se, inimigo do nosso mundo... ocidental.
Para entender esse e outros problemas, temos que levar em conta o referencial cultural como um dos elementos explicativos dos fenômenos ligados à organização do espaço geográfico mundial, a partir da mundialização das relações humanas dos dias atuais. As diferenças existentes entre os povos são confrontadas pela eliminação definitiva das barreiras geográficas, tornando inevitáveis os choques culturais, de importantes e complexas conseqüências. O avanço geográfico da modernização, promovida atualmente pela sociedade capitalista industrial, encontra resistência, inadequação ou adaptação das chamadas sociedades tradicionais. 
O conceito de cultura sofreu mudanças através dos tempos. Não há acordo quanto ao que abrange, havendo múltiplas concepções e visões. A noção de cultura começa a preocupar os homens (em especial os ocidentais) quando, através da expansão marítimo-comercial do século XVI, verificaram-se muitas diferenças entre os vários grupos humanos dos vários continentes. Nesse período, os contatos provocaram reações de surpresa e perplexidade. 
Nos séculos XVIII e XIX, admitia-se na Europa a ideia de que as diferenças entre os povos se explicariam em razão destes se encontrarem em distintos estágios de evolução, cujo parâmetro era a comparação entre os povos, considerando alguns mais evoluídos que outros. Essa forma de pensar inspirou Darwin, que elabora a ideia de que a evolução representaria a capacidade de adaptação dos seres vivos às modificações das condições naturais. A concepção de evolução biológica será transferida à dimensão social como método de interpretação das diferenças existentes entre os povos. Naquele tempo, valia a regra de que todas as sociedades humanas realizaram ou realizariam um mesmo percurso evolucionista, saindo dos estágios mais primitivos em direção aos mais avançados, o que resultaria que todos os povos um dia chegariam aos mesmos padrões de civilização. Obviamente, os europeus constituíam-se no estágio mais avançado. Assim, uma sociedade evoluída seria a que dispusesse de maiores conhecimentos técnicos e uma trama complexa no que diz respeito a artes, leis, moral, religião, costumes, hábitos, etc. A diferenciação começaria pela existência ou não da escrita. A expansão imperialista a partir da Revolução Industrial levou à exportação de uma ideia de cultura e civilização e, por conseqüência, ao choque de culturas distintas. Para os europeus, a existência de outras formas de pensar poderia significar o fracasso de suas investidas no mundo “não” civilizado. Dá para entender alguns conflitos hoje? E será difícil entender que sociedades diferentes podem ter concepções de vida tão diversas entre si quanto igualmente boas para cada uma? 
Um aspecto fundamental para compreender a diversidade cultural é o fato de que não existem, salvo pelas exceções, culturas que se constituíram isoladamente, sem nenhum contato com outras. O nomadismo, os deslocamentos eventuais e as migrações foram características de muitos grupos. Mesmo uma suposta superioridade técnica dos europeus resulta efetivamente da contribuição dos contatos com outros povos, por meio de guerras, trocas comerciais ou cooperação. Para os ocidentais não faltaram exemplos: o alfabeto, transmitido aos fenícios pelos povos semitas, passados aos gregos e romanos e difunde-se na Europa; o sistema numérico, dos árabes; criações chinesas e indianas, como a irrigação agrícola, sistemas filosóficos, o chá, a pólvora, o papel, a bússola, o macarrão, aço, vidro, etc; povos pré-colombianos, na arquitetura e cultivo de alimentos mais tarde incorporados pelos europeus, como batata, milho, látex, coca, cacau, etc. Vê-se que o conhecimento técnico não é e nunca foi um monopólio da cultura ocidental. 
Claude Lévi-Strauss considera que nos últimos 8 mil anos a humanidade nada mais fez do que aperfeiçoar os conhecimentos da Revolução Neolítica e destaca as diferenças de significado de processo histórico para as diferentes sociedades, sendo difícil para o europeu médio reconhecer e compreender como os outros povos entendem sua própria “evolução”. Tem-se, assim, que o importante é preservar a diversidade cultural, base da riqueza obtida pela humanidade, contra a ameaça da uniformidade posta pela mundialização dos padrões econômicos e dos valores ocidentais. 

A diversidade cultural e organização do espaço geográfico

A expansão geográfica da modernização capitalista (e também do socialismo real) sempre encontrou resistência nos povos quanto aos novos padrões impostos. Por exemplo: para efetivar os planos de colonização do continente africano, no final do século XIX, os europeus promoveram um recorte arbitrário das áreas ocupadas, criando os Estados-nação africanos modernos. Tudo decidido nos gabinetes da conferência de Berlim, em 1884. Essa ação produziu um mapa político que obrigou povos diferentes e até inimigos a conviverem no mesmo território, do mesmo modo que muitas culturas foram separadas em até mais de dois países. Um exemplo de conflito gerado por essa ação é o que opõe as etnias tutsi e hutu, em Ruanda. Outro exemplo é a África do Sul, onde por quase um século houve o “apartheid”, confinando a maioria negra em bantustões e subúrbios, quase sem direitos (um dos problemas atuais é a divergência entre a etnia zulu e as outras tribos reunidas no ex-grupo guerrilheiro e atual partido político Congresso Nacional Africano). Nos anos 90, a África foi sacudidas por diversas guerras locais e regionais, além de movimentos separatistas. Isso significa, na maior parte dos casos, que as diversas etnias e culturas procuram sua independência política e não aceitam a convivência imposta pelo colonizador europeu. 
Mas não só na África. Nas Américas, as comunidades indígenas reivindicam mais terras e/ou demarcação das existentes. No norte da Escandinávia, o povo lapão. Na Espanha, os bascos. Na ex-URSS, as comunidades nacionais que resistiram à russificação, antes dos czares e depois do regime soviético. E no Oriente Médio, onde povos diferentes com diferentes culturas disputam territórios e têm posições antagônicas em relação às grandes potências. 

O Oriente Médio

A complexa geografia política e a grande diversidade cultural do Oriente Médio, palco de diversos conflitos, sempre suscitaram um olhar mais atento para a região. A Guerra do Golfo, em 1991, veio reforçar essas preocupações. Trata-se de uma encruzilhada de três grandes religiões – islamismo, judaísmo e cristianismo –, em uma área marcada pelo conflito árabe-israelense, pelas disputas entre facções cristãs e muçulmanas no Líbano, pela dispersão e massacre do povo curdo, repartido em quatro países, entre outros. Essa região, tida como um barril de pólvora, não pode ser compreendida sem uma abordagem que leve em conta a questão cultural. 

O islamismo

O islamismo, ou religião muçulmana, originou-se e expandiu-se a partir do Oriente Médio. O termo islã deriva da palavra árabe islam,que significa “resignação” ou inteira submissão à vontade de Deus”. Muçulmano significa o “adepto de Maomé” (ou Muhammad); vem da palavra árabe muslim, que quer dizer “submetido ao islam”. 
A cultura islâmica tem início com Maomé, que viveu no que seria hoje a Arábia Saudita, entre os anos de 570 e 632 d.C. Sua pregação teve início na cidade de Meca; teve que fugir para Medina, fato que deu início à religião. A partir daí, esta cresceu e se expandiu; iniciou-se a jihad (guerra santa) para expandir o islamismo. 
A expansão do islamismo em direção ao norte da África, sul da Ásia e pontos do sul da Europa terminou por “islamizar” muitos povos não árabes, como turcos e persas. Os primeiros passaram, após o século VIII, a predominar no Oriente Médio, comandando no final do século XIX o poderoso Império Otomano. 
As principais correntes do islamismo são a xiita e a sunita. Elas surgem como uma cisão na islamismo, a partir de divergências quanto à herança e descendência de Maomé, reivindicadas por ambas. Com o tempo, os xiitas se mostraram mais intransigentes na defesa dos valores islâmicos. Hoje, os xiitas predominam principalmente no Irã e no Iraque. Os sunitas distribuem-se pelos outros países do Oriente Médio. 
Conforme os preceitos defendidos por Maomé, de que a religião deveria ser preservada e se expandir, o islamismo é a religião que mais cresce no mundo hoje. A previsão é de que o número de muçulmanos supere o de cristãos até o ano de 2000: mais de 1,6 bilhão de pessoas. Atualmente 880 milhões de pessoas professam o islamismo. A religião tem crescido a uma taxa de 16% ao ano, contra 1,5 % do cristianismo. 
Nesse crescimento surge um dado importante para compreender as relações do islamismo com o mundo ocidental. Muitos se perguntam se estariam havendo um retorno às velhas tradições “fundamentalistas” e religiosas muçulmanas. 
Em primeiro lugar, os islâmicos não tomam o termo fundamentalista como ofensa, pois em árabe a palavra tem o sentido de “plenitude”. 
Ao contrário do que se imagina no mundo ocidental, muitos dos novos adeptos ao islamismo são intelectuais e universitários, que vêem na religião uma maneira de protesto antiocidental e um modo de preservar sua identidade. Atrai também os excluídos do mundo moderno e aqueles frustrados com as propostas, nunca realizadas, do pan-arabismo – a criação de uma grande nação árabe. 
O xadrez geopolítico do Oriente Médio conta ainda com outros fatores políticos e culturais, tão importantes quando a cisão no mundo islâmico. A criação do Estado de Israel, em 1948, para abrigar os judeus dispersos pelo mundo é o principal deles. Provocou a “diáspora” moderna do povo palestino, ainda hoje sem território. No Líbano, batem-se as lideranças cristãs maronitas e muçulmanas, além de milícias drusas contra os governos locais. 

O judaísmo

A área onde hoje se localiza o Estado de Israel tem sido local de conflitos milenares, por onde passaram, conviveram e guerrilharam diversos povos e culturas. A presença judaica na região inicia-se por volta de 2000 a.C., com a chegada das primeiras tribos de hebreus
A área já estava ocupada por outros povos, como os cananeus e filisteus. Parte dos judeus foi levada sob regime de escravidão para o Egito. Após quatrocentos anos, retornaram à área conhecida como Palestina. Sob o reino de Davi (1006 a 966 a.C.), surge o primeiro Estado hebreu na região. Dividido posteriormente em duas partes, foram atacados pelos assírios e babilônios, por volta de 900 a.C. Até o início da era cristã, a região foi dominada por macedônios, egípcios e romanos. 
Revoltando-se contra a dominação romana, os agora dominadores judeus sofreram o revés mais marcante de toda a sua existência como cultura. Foi a diáspora, quando se dispersaram pela Europa, pelo Ocidente Médio e norte da África, estabelecendo raízes em outros lugares e lutando para manter-se como cultura. 
É notável na cultura judaica a sua persistência e capacidade em manter vivas tradições, religião, língua e costumes. Sempre mantiveram acesa a chama de retornar à Palestina. A região, durante a diáspora judaica, foi ocupada sucessivamente pelos muçulmanos árabes (expansão islâmica do século VII), pelos turcos otomanos (do século XVI ao início do XX) e pelo Império britânico (do final da Primeira Guerra Mundial ao final da Segunda Guerra Mundial). 
Somente no final do século XIX é que as condições para a volta dos judeus à Palestina apareceram. Perseguidos em várias partes do mundo, criaram movimentos pelo retorno. Os colonialistas ingleses abriram perspectivas em 1917, quando passaram a permitir a imigração de judeus. Lá viviam os muçulmanos árabes conhecidos como palestinos (que também sempre viveram sob o domínio de forças mais poderosas). Nas décadas de 30 e 40, quando ocorreu a Segunda Guerra Mundial, as migrações aumentaram. No final do conflito os judeus já constituíam 30% das população da região. 
As tentativas de genocídio do povo judeu pelos alemães sob o comando de Hitler criaram condições muito favoráveis para a criação do Estado judeu, formado em 1948, após deliberação na ONU. Inicialmente proposto como repartição geográfica em dois Estados (judeus e palestinos), logo se transformou num único, o estado judeu, chamado desde então de Israel. Os palestinos passaram a ser um povo sem território. 
A partir desse período, árabes e israelitas bateram-se em diversos conflitos: a Guerra dos Seis Dias (5 a 10 de junho de 1967), na qual, numa ação arrasadora, Israel conquistou a faixa de Gaza, a península do Sanai, a Cisjordânia e as colinas de Golan; a Guerra do Yom Kippur (dia do Perdão) e os inumeráveis conflitos entre os judeus e palestinos nos territórios mencionados. Em setembro de 1993, árabes e judeus selaram um acordo de paz, sob coordenação do governo dos EUA, com forte resistência de judeus ortodoxos e fundamentalistas muçulmanos. 
A presença israelense na área produziu diversos efeitos nas relações dos países da região com as potências ocidentais. Particularmente, provocou descontentamentos em relação as EUA, aliado de Israel na região e de onde vêm as maiores contribuições de judeus de todo o mundo. Os governos norte-americanos sempre financiaram projetos econômicos e mantiveram cooperação militar com os israelenses. Estes criaram um Estado militarizado e duro nas negociações com os árabes. 
Um exame dos problemas da região permite afirmar que os israelenses tiveram uma abertura maior para o Ocidente, embora sempre pautada pela defesa de seus interesses políticos, militares e territoriais. Como grande parte dos judeus que migraram nos anos 30 eram de origem européia, instalou-se um núcleo na comunidade de defesa dos progressos obtidos pela modernização, mantendo-se até hoje essa mentalidade. 

Europa

Entre os diversos problemas associados ao plano cultural vividos na Europa, podemos destacar dois, que nos parecem fundamentais: o ressurgimento do racismo e da xenofobia (o ódio aos estrangeiros) em alguns países (particularmente a Alemanha) e os ódios étnicos e movimentos separatistas, sobretudo nos países do ex-mundo socialista, casos ilustrativos da ex-URSS e da Iugoslávia. 
Os movimentos que produzem de discriminação racial e intolerância com aquele que é diferente têm se mostrado muito fortes na Alemanha (com os neonazistas) e na França, onde a Frente Nacional, liderada pelo político conservador xenófobo Jean Marie Le Pen, vem obtendo expressivos avanços eleitorais. Mas também existem de forma velada em países como a Inglaterra, a Espanha e a Itália. Mostram indícios de crescimento também em países tradicionalmente mais tolerantes, como a Suécia, a Dinamarca e a Noruega. 
Vimos anteriormente que sempre foi muito comum o deslocamento, a migração e o contato cultural e “racial” entre os povos de todo o mundo. Desse processo resultaram a miscigenação, as trocas e enriquecimentos culturais. Nenhum povo ou nação, em sã consciência, pode negar esse fato. Porém, os acontecimentos do final dos anos 80 e início dos 90 precipitaram a ebulição dos sentimentos mencionados.


quarta-feira, 2 de maio de 2012

A AUSÊNCIA DE SUSTENTABILIDADE DOS ATUAIS PADRÕES DE CONSUMO

Este é um texto do Worldwacht Institute intitulado “O estado do mundo – 2010”.

Em 2006, pessoas no mundo todo gastaram US$ 30,5 trilhões em bens e serviços (em dólares de 2008). Esses dispêndios incluíram necessidades elementares, como alimentação e moradia; no entanto, com o aumento da renda discricionária, as pessoas passaram a gastar mais em bens de consumo: alimentos mais pesados, moradias maiores, televisões, carros, computadores e viagens de avião. Só em 2008, pessoas no mundo todo compraram 68 milhões de veículos, 85 milhões de geladeiras, 297 milhões de computadores e 1,2 bilhão de telefones móveis (celulares).

O consumo teve um crescimento tremendo nos últimos cinquenta anos, registrando um aumento de 28% em relação aos US$ 23,9 trilhões gastos em 1996 e seis vezes mais do que os US$ 4,9 trilhões gastos em 1960 (em dólares de 2008). Parte desse aumento é resultante do crescimento populacional, mas o número de seres humanos cresceu apenas a uma razão de 2,2 entre 1960 e 2006. Sendo assim, os gastos com consumo por pessoa praticamente triplicaram.

Como o consumo aumentou, mais combustíveis, minerais e metais foram extraídos da terra, mais árvores foram derrubadas e mais terra foi arada para o cultivo de alimentos (muitas vezes para alimentar gado, visto que pessoas com patamares de renda mais elevada começaram a comer mais carne). Entre 1950 e 2005, por exemplo, a produção de metais cresceu seis vezes, a de petróleo, oito, e o consumo de gás natural, 14 vezes.

No total, 60 bilhões de toneladas de recursos são hoje extraídas anualmente – cerca de 50% a mais do que há apenas 30 anos. Hoje, o europeu médio usa 43 quilos de recursos diariamente, e o americano médio, 88 quilos. No final das contas, o mundo extrai o equivalente a 112 edifícios Empire State da Terra a cada dia.

A exploração desses recursos para a manutenção de níveis de consumo cada vez mais altos vem exercendo pressão crescente sobre os sistemas da Terra, e esse processo vem destruindo com grande impacto os sistemas ecológicos dos quais a humanidade e incontáveis outras espécies dependem.

O Indicador de Pegada Ecológica, que compara o impacto ecológico humano com a quantidade de terra produtiva e área marítima disponível para o abastecimento de ecossistemas centrais, mostra que hoje a humanidade usa recursos e serviços de 1,3 Terra. (Figura 1). Em outras palavras, as pessoas estão usando quase um terço a mais da capacidade da Terra do que a efetivamente disponível, afetando a regeneração dos próprios ecossistemas dos quais a humanidade depende.


Em 2005, a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MA), uma análise detalhada de pesquisas científicas envolvendo 1.360 especialistas de 95 países, corroborou esses resultados. Concluiu-se que aproximadamente 60% dos serviços providos por ecossistema – regulação do clima, abastecimento de água doce, tratamento de detritos, alimentos de pesqueiros e muitos outros serviços – estavam sendo degradados ou usados de modo não sustentável. Os resultados foram tão inquietantes, que o Conselho da MA emitiu um alerta informando que a “atividade humana está deformando de tal modo as funções naturais da Terra, que a capacidade de os ecossistemas do planeta sustentarem futuras gerações não pode mais ser dada como certa”.

As mudanças em um dos serviços do ecossistema em particular – regulação do clima – são especialmente alarmantes. Depois de permanecer em níveis estáveis nos últimos 1.000 anos, aproximadamente 280 partes por milhão, as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono (CO2) estão hoje em 385 partes por milhão, como consequência de uma parcela crescente da população consumir cada vez mais combustíveis fósseis, comer mais carne e converter mais terra em áreas agrícolas e urbanas. O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática concluiu que a mudança climática resultante de atividades humanas está causando degradações de vulto em sistemas terrestres. Se as emissões de gás de efeito estufa não forem coibidas, mudanças desastrosas ocorrerão no próximo século.

Um estudo de maio de 2009 que utilizou o Modelo de Sistemas Globais Integrados do Massachusetts Institute of Technology concluiu que, a menos que medidas significativas sejam adotadas em breve, o aumento médio de temperatura seria de 5,1ºC até 2100, mais do que o dobro do que o modelo previra em 2003. Um estudo de setembro de 2009 reforçou esse resultado, informando que as atividades usuais levariam a um aumento de 4,5ºC até 2100, e que mesmo se todos os países se ativessem às suas propostas mais ambiciosas para redução de emissões de gás de efeito estufa, ainda assim as temperaturas subiriam até 3,5ºC. Em outras palavras, a política por si só não será suficiente. Uma mudança expressiva em toda a formulação das sociedades humanas será essencial.

Essa projeção de níveis de mudança de temperatura significa que haveria grande chance de que os níveis dos oceanos aumentassem em dois ou mais metros devido ao derretimento parcial de placas de gelo na Groenlândia ou na Antártica Ocidental, o que por sua vez causaria grandes inundações em áreas costeiras e possivelmente submergiria nações insulares inteiras. A parcela do mundo – um sexto – que depende de glaciais ou rios alimentados pelo derretimento de neve para obter água enfrentaria sua extrema escassez. Vastas áreas na floresta amazônica se tornariam savana, recifes de corais morreriam e muitos dos pesqueiros mais valiosos do mundo se extinguiriam. Tudo isso se traduziria em transtornos políticos e sociais críticos – havendo previsão de que refugiados do meio ambiente cheguem a 1 bilhão até 2050.

E a mudança climática é apenas um dos muitos sintomas de níveis excessivos de consumo. A poluição do ar, a destruição média de 7 milhões de hectares de floresta por ano, a erosão do solo, a produção anual de mais de 100 milhões de toneladas de dejetos perigosos, práticas trabalhistas abusivas movidas pelo desejo de produzir bens de consumo em maior quantidade e a preço mais baixo, obesidade, estresse crescente – a lista poderia continuar indefinidamente. Todos esses problemas são quase sempre tratados em separado, ainda que muitas de suas raízes remontem aos atuais padrões de consumo.

Além de serem acima de tudo excessivos, os níveis de consumo moderno são altamente enviesados, e, entre os ricos, assumem responsabilidade desproporcional pelos males ambientais de nossos dias. De acordo com um estudo do ecologista de Princeton Stephen Pacala, os 500 milhões de pessoas mais ricas do mundo (aproximadamente 7% da população mundial) são atualmente responsáveis por 50% das emissões globais de dióxido de carbono, enquanto os 3 bilhões mais pobres são responsáveis por apenas 6%. Esses números não deveriam ser surpreendentes, dado que são os ricos que têm casas maiores, dirigem carros, andam de avião pelo mundo, usam grandes quantidades de eletricidade, comem mais carne e alimentos industrializados e compram mais produtos – tudo isso com um impacto ecológico significativo. É ponto pacífico que as rendas mais altas nem sempre equivalem a consumo elevado, mas onde o consumismo é a norma cultural, a probabilidade de se consumir mais sobe quando as pessoas têm mais dinheiro, mesmo para consumidores ecologicamente conscientes.

(O estado do mundo – 2010. Worldwacht Instute)