Estamos em 8 de março de 1857, em uma fábrica de tecidos na cidade de Nova Iorque. Dezenas de mulheres iniciam uma greve reivindicando melhores condições de trabalho, tais como redução da jornada de trabalho para 10 horas - eram obrigadas a trabalhar até 16h/dia -, e equiparação salarial com os homens - recebiam o equivalente a um terço do salário masculino -, enfim, dignidade. A repressão foi violenta. As mulheres foram trancafiadas em um galpão e em seguida foi ateado fogo no mesmo, matando cerca de 130 operárias. Um incêndio criminoso e covarde. Ficou marcado esse dia, muitos anos depois, como o Dia Internacional da Mulher.
Estamos em 8 de março de 2012. O que mudou? Muitas coisas foram conquistadas, o direito de votar e ser votada, leis para dar maior proteção (sic), licença maternidade, etc. Mas a mulher ainda recebe menos que o homem (aqui no Brasil cerca de 70%) e ainda sofre muitas outras discriminações. Em países como a Arábia Saudita, uma ditadura familiar anacrônica, seus direitos são mínimos (não pode dirigir, deve seguir sempre atrás do homem, entre outras barbaridades). Cabe aqui um breve comentário: os EUA diziam querer levar a democracia aos países árabes quando da invasão do Iraque e seu maior aliado entre eles é a... Arábia.
Poderia me estender aqui e fazer uma série de outras reflexões. Mas minha pretensão é menor. Só quero que as pessoas reflitam um pouco nesse dia sobre a igualdade, necessária em uma sociedade que já se diz igual mas não é, em nenhum sentido.
Reproduzo abaixo "Mulheres de Atenas", composta em 1976 por Chico Buarque de Hollanda e Augusto Boal. Para mim, um marco.
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas
Quando amadas, se perfumam
Se banham com leite, se arrumam
Suas melenas
Quando fustigadas não choram
Se ajoelham, pedem, imploram
Mais duras penas
Cadenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas
Quando eles embarcam, soldados
Elas tecem longos bordados
Mil quarentenas
E quando eles voltam sedentos
Querem arrancar violentos
Carícias plenas
Obscenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas
Quando eles se entopem de vinho
Costumam buscar o carinho
De outras falenas
Mas no fim da noite, aos pedaços
Quase sempre voltam pros braços
De suas pequenas
Helenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas
Elas não têm gosto ou vontade
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas
Não têm sonhos, só têm presságios
O seu homem, mares, naufrágios
Lindas sirenas
Morenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas
As jovens viúvas marcadas
E as gestantes abandonadas
Não fazem cenas
Vestem-se de negro, se encolhem
Se conformam e se recolhem
Às suas novenas
Serenas
Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas
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