quarta-feira, 7 de março de 2012

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

Estamos em 8 de março de 1857, em uma fábrica de tecidos na cidade de Nova Iorque. Dezenas de mulheres iniciam uma greve reivindicando melhores condições de trabalho, tais como redução da jornada de trabalho para 10 horas - eram obrigadas a trabalhar até 16h/dia -, e equiparação salarial com os homens - recebiam o equivalente a um terço do salário masculino -, enfim, dignidade. A repressão foi violenta. As mulheres foram trancafiadas em um galpão e em seguida foi ateado fogo no mesmo, matando cerca de 130 operárias. Um incêndio criminoso e covarde. Ficou marcado esse dia, muitos anos depois, como o Dia Internacional da Mulher. 
Estamos em 8 de março de 2012. O que mudou? Muitas coisas foram conquistadas, o direito de votar e ser votada, leis para dar maior proteção (sic), licença maternidade, etc. Mas a mulher ainda recebe menos que o homem (aqui no Brasil cerca de 70%) e ainda sofre muitas outras discriminações. Em países como a Arábia Saudita, uma ditadura familiar anacrônica, seus direitos são mínimos (não pode dirigir, deve seguir sempre atrás do homem, entre outras barbaridades). Cabe aqui um breve comentário: os EUA diziam querer levar a democracia aos países árabes quando da invasão do Iraque e seu maior aliado entre eles é a... Arábia. 
Poderia me estender aqui e fazer uma série de outras reflexões. Mas minha pretensão é menor. Só quero que as pessoas reflitam um pouco nesse dia sobre a igualdade, necessária em uma sociedade que já se diz igual mas não é, em nenhum sentido. 

Reproduzo abaixo "Mulheres de Atenas", composta em 1976 por Chico Buarque de Hollanda e Augusto Boal. Para mim, um marco. 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas
Vivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenas 
Quando amadas, se perfumam 
Se banham com leite, se arrumam 
Suas melenas 
Quando fustigadas não choram 
Se ajoelham, pedem, imploram 
Mais duras penas 
Cadenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas 
Sofrem por seus maridos, poder e força de Atenas 
Quando eles embarcam, soldados 
Elas tecem longos bordados 
Mil quarentenas 
E quando eles voltam sedentos 
Querem arrancar violentos 
Carícias plenas 
Obscenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas 
Despem-se pros maridos, bravos guerreiros de Atenas 
Quando eles se entopem de vinho 
Costumam buscar o carinho 
De outras falenas 
Mas no fim da noite, aos pedaços 
Quase sempre voltam pros braços 
De suas pequenas 
Helenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas 
Geram pros seus maridos os novos filhos de Atenas 
Elas não têm gosto ou vontade 
Nem defeito nem qualidade
Têm medo apenas 
Não têm sonhos, só têm presságios 
O seu homem, mares, naufrágios 
Lindas sirenas 
Morenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas 
Temem por seus maridos, heróis e amantes de Atenas 
As jovens viúvas marcadas 
E as gestantes abandonadas 
Não fazem cenas 
Vestem-se de negro, se encolhem 
Se conformam e se recolhem 
Às suas novenas 
Serenas 

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas 
Secam por seus maridos, orgulho e raça de Atenas

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